UM DESPEDIMENTO É UM DESPEDIMENTO
Ana Cristina Leonardo: «O caso Joana Varela: porque um despedimento é um despedimento mesmo quando se dá em ambiente sofisticado e com vista para o jardim.»
André Moura e Cunha: «Depois de ter lido isto e isto [...] germinou em mim uma vontade incomensurável de falar, de gritar, de exteriorizar a revolta que casos como este e similares me provocam, me revolvem as entranhas e me fazem, por vezes, estiolar em palavras de desprezo perante este país de capelinhas e sacristias, onde uma pequena turba de oligarcas dedilha os fios que fazem mover os nossos braços e pernas como se fôssemos marionetas. [...] Sem conhecer a visada, e tão-pouco vislumbrar a hipótese de algum dia a poder vir a conhecer; sem conhecer o processo em causa, mas divisando, infelizmente, os contornos que por ora assume e que, mais tarde, irá decerto assumir, gostaria de manifestar a minha solidariedade a Joana Morais Varela, que de um momento para outro se viu despojada de um projecto que erigiu e ajudou a retirar, em definitivo, a Colóquio/Letras dos escombros da ociosa intelectualidade lusa. [...]»
João Gonçalves: «A Fundação Gulbenkian, dirigida pelo venerável Vilar [...] prepara-se para despedir Joana Varela. Para quem não sabe, Varela é a directora da Colóquio-Letras, umas das poucas revistas dignas do epíteto de “literárias”, recentemente colocada online desde o primeiro número. Antes dela, a revista foi dirigida por gente tão notável como Hernâni Cidade, David Mourão-Ferreira e Jacinto do Prado Coelho. Joana Varela soube estar à altura destes homens mas não escapou ao “modismo” a que nem a Gulbenkian de Vilar (um administrador profissional do regime), Marçal Grilo (o profeta da educação de Guterres), Teresa Patrício Gouveia (antiga e insignificante SEC) ou Isabel Mota (uma “manelista” do PSD) souberam fugir. A Gulbenkian foi invadida pela praga do “multiculturalismo”. Vão longe os idos de 96, 97 e 98 quando se organizaram os magníficos seminários internacionais sobre a Europa que trouxeram a Lisboa Steiner, Shama, Furet, Finkielkraut, Romilly, Vidal e outros. Joana Varela não deve servir para “acompanhar” estes tempos da propaganda “multicultural” ligada a essa miragem “correcta” que são os chamados “países emergentes”. E é natural que Rui Vilar queira ver no seu lugar — e, por consequência, a “escrever” uma outra Colóquio-Letras mais “adequada” a terceiros-mundismos “emergentes” e petrolíferos — um seu antigo colaborador na Culturgest, António Pinto Ribeiro, o verdadeiro “Pinto Ribeiro”, aquele que nunca chegou a receber o telefonema certo para ir para a Ajuda pastorear a Cultura de Sócrates. O método para remover Joana Varela é o do costume e nada “multicultural”: o competente processo disciplinar com vista à aplicação da sanção que se mostrar adequada e na qual desde já se declara incluir-se o despedimento com justa causa, acompanhado da “suspensão preventiva” da arguida não vá ela virar a “louca da casa”. Há coisas que nunca mudam.»
João Reis Ribeiro: «[...] Só quem não saiba o que é a Colóquio-Letras pode ignorar a importância revista para o panorama cultural, e sobretudo literário, português. Só quem não saiba o que Joana Morais Varela tem investido na qualidade da revista pode aceitar esta situação de braços caídos e com indiferença e entender que um alegado convite para integrar um Conselho Editorial de uma outra revista da Fundação não soava a despromoção. Como refere Pitta, “isto não pode estar a acontecer”! Fica a pena pela interrupção no decurso de um número que estava a ser preparado com a correspondência de Sebastião da Gama para os amigos e de muitas outras ideias que corriam à frente de Joana Morais Varela para temas da revista. Fica a pena por tudo isto poder indiciar o fim de uma das mais interessantes revistas culturais do país (obviamente feita por uma instituição com posses, mas também por um corpo de colaboradores de referência e com uma qualidade estética e de conteúdos notável). Isto não pode estar a acontecer, pois!»
José Mário Silva: «[...] há mosquitos por cordas na Av. de Berna. Não conhecendo Joana Morais Varela, nem as circunstâncias exactas do conflito com Marçal Grilo, temo apenas que as ondas de choque deste caso afectem a Colóquio/Letras, talvez a ponto de a conduzir ao mesmo destino que tiveram a Colóquio/Artes e o Ballet Gulbenkian.»
Luís Mourão: «A Colóquio Letras é, desde há vários anos a esta parte, a melhor revista de literatura portuguesa que se edita entre nós. Parte fundamental desse estatuto deve-se à direcção de Joana Morais Varela. É com estupefacção que leio notícias sobre o afastamento de Joana Morais Varela do seu cargo e instauração de processo disciplinar em sequência da sua reacção. Não sei que novo projecto a administração da Fundação Gulbenkian poderá ter para a Colóquio Letras e como pode dar-se ao luxo de prescindir de alguém que realizou o trabalho que Joana Morais Varela realizou. Para já, tudo indica estarmos perante uma má notícia para o estudo da literatura portuguesa e um caso de manifesto esbanjamento de recursos humanos especialmente qualificados.»
Pedro Vieira: «há um cheiro a esturro na fundação gulbenkian. [...]»
Ruy Ventura: «A direcção poderia ter sido substituída, mas o fim anunciado da revista Colóquio/Letras na sequência da extinção da Colóquio/Artes, deixa-me preocupado com o caminho que vem seguindo a Fundação Calouste Gulbenkian, empurrada pelos seus directores. Sei bem que, nalguns aspectos, a revista perdeu o carácter de proximidade de outros tempos, em prol de um povoamento demasiado académico ou demasiado enfeudado a certos grupos ou tendências, geralmente influentes e bem relacionados. Se o “cinzento” do passado não correspondia a desinteresse, o “luxo” do presente não correspondia totalmente a elevação. Mas acabar com a revista, se se confirmar, será mais um sintoma do apodrecimento das linhas de comunicação da Cultura portuguesa. Neste momento, ficam-me duas preocupações, referentes a dois números futuros (?) desejados por muita gente. Sairão ainda as cartas de Sebastião da Gama e o volume de homenagem ao poeta Cristovam Pavia? Se a resposta for negativa, ficaremos todos a perder.»
De olhos bem fechados: «[...] Este país é uma verdadeira tristeza.»
André Moura e Cunha: «Depois de ter lido isto e isto [...] germinou em mim uma vontade incomensurável de falar, de gritar, de exteriorizar a revolta que casos como este e similares me provocam, me revolvem as entranhas e me fazem, por vezes, estiolar em palavras de desprezo perante este país de capelinhas e sacristias, onde uma pequena turba de oligarcas dedilha os fios que fazem mover os nossos braços e pernas como se fôssemos marionetas. [...] Sem conhecer a visada, e tão-pouco vislumbrar a hipótese de algum dia a poder vir a conhecer; sem conhecer o processo em causa, mas divisando, infelizmente, os contornos que por ora assume e que, mais tarde, irá decerto assumir, gostaria de manifestar a minha solidariedade a Joana Morais Varela, que de um momento para outro se viu despojada de um projecto que erigiu e ajudou a retirar, em definitivo, a Colóquio/Letras dos escombros da ociosa intelectualidade lusa. [...]»
João Gonçalves: «A Fundação Gulbenkian, dirigida pelo venerável Vilar [...] prepara-se para despedir Joana Varela. Para quem não sabe, Varela é a directora da Colóquio-Letras, umas das poucas revistas dignas do epíteto de “literárias”, recentemente colocada online desde o primeiro número. Antes dela, a revista foi dirigida por gente tão notável como Hernâni Cidade, David Mourão-Ferreira e Jacinto do Prado Coelho. Joana Varela soube estar à altura destes homens mas não escapou ao “modismo” a que nem a Gulbenkian de Vilar (um administrador profissional do regime), Marçal Grilo (o profeta da educação de Guterres), Teresa Patrício Gouveia (antiga e insignificante SEC) ou Isabel Mota (uma “manelista” do PSD) souberam fugir. A Gulbenkian foi invadida pela praga do “multiculturalismo”. Vão longe os idos de 96, 97 e 98 quando se organizaram os magníficos seminários internacionais sobre a Europa que trouxeram a Lisboa Steiner, Shama, Furet, Finkielkraut, Romilly, Vidal e outros. Joana Varela não deve servir para “acompanhar” estes tempos da propaganda “multicultural” ligada a essa miragem “correcta” que são os chamados “países emergentes”. E é natural que Rui Vilar queira ver no seu lugar — e, por consequência, a “escrever” uma outra Colóquio-Letras mais “adequada” a terceiros-mundismos “emergentes” e petrolíferos — um seu antigo colaborador na Culturgest, António Pinto Ribeiro, o verdadeiro “Pinto Ribeiro”, aquele que nunca chegou a receber o telefonema certo para ir para a Ajuda pastorear a Cultura de Sócrates. O método para remover Joana Varela é o do costume e nada “multicultural”: o competente processo disciplinar com vista à aplicação da sanção que se mostrar adequada e na qual desde já se declara incluir-se o despedimento com justa causa, acompanhado da “suspensão preventiva” da arguida não vá ela virar a “louca da casa”. Há coisas que nunca mudam.»
João Reis Ribeiro: «[...] Só quem não saiba o que é a Colóquio-Letras pode ignorar a importância revista para o panorama cultural, e sobretudo literário, português. Só quem não saiba o que Joana Morais Varela tem investido na qualidade da revista pode aceitar esta situação de braços caídos e com indiferença e entender que um alegado convite para integrar um Conselho Editorial de uma outra revista da Fundação não soava a despromoção. Como refere Pitta, “isto não pode estar a acontecer”! Fica a pena pela interrupção no decurso de um número que estava a ser preparado com a correspondência de Sebastião da Gama para os amigos e de muitas outras ideias que corriam à frente de Joana Morais Varela para temas da revista. Fica a pena por tudo isto poder indiciar o fim de uma das mais interessantes revistas culturais do país (obviamente feita por uma instituição com posses, mas também por um corpo de colaboradores de referência e com uma qualidade estética e de conteúdos notável). Isto não pode estar a acontecer, pois!»
José Mário Silva: «[...] há mosquitos por cordas na Av. de Berna. Não conhecendo Joana Morais Varela, nem as circunstâncias exactas do conflito com Marçal Grilo, temo apenas que as ondas de choque deste caso afectem a Colóquio/Letras, talvez a ponto de a conduzir ao mesmo destino que tiveram a Colóquio/Artes e o Ballet Gulbenkian.»
Luís Mourão: «A Colóquio Letras é, desde há vários anos a esta parte, a melhor revista de literatura portuguesa que se edita entre nós. Parte fundamental desse estatuto deve-se à direcção de Joana Morais Varela. É com estupefacção que leio notícias sobre o afastamento de Joana Morais Varela do seu cargo e instauração de processo disciplinar em sequência da sua reacção. Não sei que novo projecto a administração da Fundação Gulbenkian poderá ter para a Colóquio Letras e como pode dar-se ao luxo de prescindir de alguém que realizou o trabalho que Joana Morais Varela realizou. Para já, tudo indica estarmos perante uma má notícia para o estudo da literatura portuguesa e um caso de manifesto esbanjamento de recursos humanos especialmente qualificados.»
Pedro Vieira: «há um cheiro a esturro na fundação gulbenkian. [...]»
Ruy Ventura: «A direcção poderia ter sido substituída, mas o fim anunciado da revista Colóquio/Letras na sequência da extinção da Colóquio/Artes, deixa-me preocupado com o caminho que vem seguindo a Fundação Calouste Gulbenkian, empurrada pelos seus directores. Sei bem que, nalguns aspectos, a revista perdeu o carácter de proximidade de outros tempos, em prol de um povoamento demasiado académico ou demasiado enfeudado a certos grupos ou tendências, geralmente influentes e bem relacionados. Se o “cinzento” do passado não correspondia a desinteresse, o “luxo” do presente não correspondia totalmente a elevação. Mas acabar com a revista, se se confirmar, será mais um sintoma do apodrecimento das linhas de comunicação da Cultura portuguesa. Neste momento, ficam-me duas preocupações, referentes a dois números futuros (?) desejados por muita gente. Sairão ainda as cartas de Sebastião da Gama e o volume de homenagem ao poeta Cristovam Pavia? Se a resposta for negativa, ficaremos todos a perder.»
De olhos bem fechados: «[...] Este país é uma verdadeira tristeza.»
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