ISTO NÃO PODE ESTAR A ACONTECER
«Joana Morais Varela foi ontem notificada, com efeitos imediatos, de que deixa de dirigir a Colóquio/Letras, da Fundação Calouste Gulbenkian. Os leitores da revista sabem que a Joana está lá desde 1988, tendo sido sucessivamente assistente da direcção, directora-adjunta e, desde o n.º 142 (1996), directora. Foi ela que transformou uma revista cinzenta num objecto de prazer. Sei bem do que falo porque escrevi na revista entre 1980 e 2005 (comecei no n.º 54, quando era seu director Jacinto do Prado Coelho), ali tendo publicado poesia, ensaio e crítica, revelando autores novos que de outro modo só muito mais tarde acederiam a uma publicação com aquele perfil. Porém, Eduardo Marçal Grilo, o administrador responsável, terá em vista outro modelo, contando com a sua (dela) presença num Conselho Editorial a haver. Isto, que é objectivamente uma despromoção, não foi aceite. Posta perante o facto consumado, a Joana pôs a circular um comunicado, que distribuiu em mão pelos serviços da Fundação:
“Depois de 25 anos a trabalhar na Fundação Gulbenkian, primeiro como membro do Conselho de Leitura do extinto Serviço de Bibliotecas Fixas e Itinerantes (1983-1988), depois na revista Colóquio/Letras de que sou até hoje directora, fui convidada ontem a mais uma despromoção pelo administrador Marçal Grilo, [...] antigo ministro da Educação [...] a pertencer a um futuro Conselho Editorial de uma futura revista da Fundação, a dirigir certamente por alguém mais do seu agrado e menos incómodo. [...] Não aceitei a oferta do ex-ministro da educação e fui convidada a sair do seu gabinete, depois de ser ameaçada com um processo disciplinar.”
Parece que a ameaça se concretizou ao princípio da noite, com a sugestão implícita de despedimento com justa causa. Motivo? Injúrias. A Joana tem uma personalidade forte, é verdade que tem, mas não estou a vê-la a insultar ninguém. Custa a acreditar que se chegue a este ponto. Depois do encerramento da Colóquio/Artes e do Ballet Gulbenkian, o desaparecimento da Colóquio/Letras é uma notícia difícil de qualificar. E o que está a acontecer com a Joana não podia estar a acontecer.»
Fonte: Eduardo Pitta, Da Literatura.
“Depois de 25 anos a trabalhar na Fundação Gulbenkian, primeiro como membro do Conselho de Leitura do extinto Serviço de Bibliotecas Fixas e Itinerantes (1983-1988), depois na revista Colóquio/Letras de que sou até hoje directora, fui convidada ontem a mais uma despromoção pelo administrador Marçal Grilo, [...] antigo ministro da Educação [...] a pertencer a um futuro Conselho Editorial de uma futura revista da Fundação, a dirigir certamente por alguém mais do seu agrado e menos incómodo. [...] Não aceitei a oferta do ex-ministro da educação e fui convidada a sair do seu gabinete, depois de ser ameaçada com um processo disciplinar.”
Parece que a ameaça se concretizou ao princípio da noite, com a sugestão implícita de despedimento com justa causa. Motivo? Injúrias. A Joana tem uma personalidade forte, é verdade que tem, mas não estou a vê-la a insultar ninguém. Custa a acreditar que se chegue a este ponto. Depois do encerramento da Colóquio/Artes e do Ballet Gulbenkian, o desaparecimento da Colóquio/Letras é uma notícia difícil de qualificar. E o que está a acontecer com a Joana não podia estar a acontecer.»
Fonte: Eduardo Pitta, Da Literatura.
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